segunda-feira, 24 de outubro de 2011

E se der certo?





 Você planeja, ensaia, cria o ambiente perfeito para aquele plano ou situação que, há tempos, você deseja. E chega na hora, vai tudo por água abaixo.

Chato, né? É triste, você se escabela e xinga a má sorte, que está sempre conspirando contra você, coitadinho! Chama os amigos e vai afogar as mágoas de mais uma empreitada que acabou em nada. Você, definitivamente, é um azarado. Colocaram macumba na sua bebida e seu destino é virar freira/mendigo/lésbica/auxiliar de escritório/hippie ou morrer desiludido e sozinho, abandonado em casa com os doze gatos recolhidos pela vizinhança.

Tudo culpa do mundo, claro! Mundo cruel.

Será mesmo, cara-pálida? Será que o Universo não tem mais nada pra fazer do que empatar a sua foda vida? Não seria o seu grandessíssimo medo de dar certo sabotando todas os planos possíveis?

Sim, porque tem gente que MORRE de medo da coisa toda dar certo!

Certamente, no meio dos seus amigos e conhecidos, existe aquela moça que está solteira há um tempão, e está em busca de um relacionamento. Só que ela dispensa todos os caras bacanas e sai com aqueles babacas, que todo mundo sabe que não vão (e não querem) ficar na vida dela, e não vão fazê-la mais feliz, e logo ela estará sozinha de novo.
Ou ela até sai com os caras bacanas, mas só fala merda bobagem, bebe demais, faz cu doce joguinhos, e espanta a criatura, ou inventa algum defeito absurdo, do tipo que o rapaz tem dedo torto, franja pro lado, ou até, que ele é legal demais, e homem não pode ser legal demais (!?). Auto-sabotagem em seu estado mais puro.
E assim, ela continua culpando a raça masculina, bradando aos quatro ventos que homem não presta, quando, na verdade, ela joga fora todas as chances de ser feliz, por medo de dar certo.

E isso não acontece só no terreno amoroso. Acontece no trabalho, como aquele colega que preparou uma apresentação que poderia acarretar na promoção que ele tanto dizia querer, mas na hora...ui...deu branco, ele errou o básico, se mostrou inseguro e foi tudo para o ralo.

E aquela dieta que estava indo de vento em popa, mas que você, por medo de não saber viver com outro corpo e outra mentalidade, abandonou no meio.

Tá com medinho?
Porque, vai que dá certo, né? E se der certo? O que fazer? Que medo! Porque, se der certo, vão surgir sentimentos, responsabilidades e desafios antes desconhecidos e enfrentar tudo isso é muito difícil. Não...melhor deixar como está... É mais fácil sentar e culpar o azar, o mundo, a mãe, a infância, o chefe, a chuva, a roupa, o governo. É mais fácil ser infeliz e azarado, porque ser infeliz não dá trabalho, não requer investimento em nada, e ser azarado é algo que foge ao seu controle.

Claro que existem casos e casos, e muitos problemas sem solução acontecem e você não tem culpa de todos. Mas são poucos, se comparados aos que dependem, exclusivamente, da nossa ação.

Eu confesso que já tive muito medo que meus desejos se realizassem. E já sabotei várias oportunidades de conseguir o que eu queria. Até hoje eu não sei dizer se eu quero mesmo o que eu acho que eu quero, mas deixo vir. Tenho medo, sim, de todas as coisas que o enfrentamento do medo causa na gente, as ansiedades, as novidades, as mudanças de comportamento, de visão de mundo, de planos de vida...

A única certeza que se tem na vida, além da morte, são as mudanças. E são elas que causam o medo. E a cada medo enfrentado e vencido, cria-se novos medos a serem novamente enfrentados e vencidos. Portanto, não adianta fugir.

Compra uma Pampers e encara!








sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Não tenho mais idade para isso (1)





Eu não tenho mais idade para um monte de coisas. Na verdade, eu me sinto nova ainda. Apenas perdi a paciência para algumas situações.

Pensei nisso depois de assistir ao Rock In Rio na TV. Estávamos assistindo a uma reportagem sobre a abertura dos portões do evento, quando passou a imagem de milhares de jovens correndo para ficar na primeira fila, em frente ao palco. E dali, não poderiam sair mais até o final do último show da noite, sob o risco de perderem o lugar. Quer ir ao banheiro? Pode ir, mas não volta mais.
Posso apostar que muitos deles tiveram que jogar a calça mijada no balde de roupa suja quando chegaram em casa.
Não tenho mais idade para festivais. Chega uma hora da noite que a única coisa que eu quero é um segurança de 3 metros de envergadura para abrir passagem na multidão e lugar com encosto para morrer.

Não sei você, mas eu fujo de locais lotados. Não vou nem no supermercado no final de semana porque é muito cheio. Shopping, então, nem pensar! Fila para entrar em bar? Tchau, tô indo para outro lugar. Só encaro filas se for, realmente, inevitável ou imprescindível.

Quando eu tinha meus 20 e poucos aninhos, metade da graça das festas era ficar na fila, esperando encher. Festa boa era festa lotada! Era um empurra-empurra do inferno, e era preciso pegar as correntes de pessoas que passavam para conseguir chegar ao bar, ao banheiro, à pista... No alto dos meus 1,57m de altura, cada passo era uma surpresa, e vi muitas costas alheias durante essa fase da minha vida.

Tudo muito apertado, e barulhento. Não se escutava nem os próprios pensamentos (o que não é de todo ruim, quando se tem 20 anos). Mas eu ia. E feliz da vida.

Eu não planejava nada. Se alguém me ligasse às 23h, me convidando para sair, eu saltava dentro das roupas (que hoje em dia, não me servem mais, diga-se de passagem. O que é ótimo, por que eu não sei como eu tinha coragem de usar aquilo!) e ia.
Hoje, se alguém me liga neste horário, eu dou boa noite e combino para amanhã, mais cedinho. De preferência em algum lugar que tenha cadeiras livres para sentar e que eu consiga, ao menos, escutar o que a outra pessoa diz.  AH, e também com espaço livre para circulação. Não tem coisa mais broxante que tomar uma cerveja com a bunda de alguém dançando na sua cara!

Quem quer sentar aí, levanta a mão!

Acho que a gente só perde a paciência com aquilo que não faz mais sentido na nossa vida. Não vejo mais sentido em me sentir desconfortável, seja onde for, por opção. Aproveitei muito a minha adolescência e meus vinte e alguns anos, mas, infelizmente (ou felizmente), já passou.

Envelhecer pode ser bom, sim. A gente aprende a escutar aquela vozinha lá dentro dizendo que não há motivos para passar por certas situações. A gente aprende a respeitar nossos gostos e vontades. E aprende a dar valor aos momentos de tranquilidade. Passei por todos as bolhas nos pés, pelos apertos, pelas gritarias, pelas multidões e me sinto livre, hoje, para encerrar essa fase.

Há quem diga que eu virei uma velha, eu sei. Mas quem disse que eu não estou adorando?