sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Não tenho mais idade para isso (1)





Eu não tenho mais idade para um monte de coisas. Na verdade, eu me sinto nova ainda. Apenas perdi a paciência para algumas situações.

Pensei nisso depois de assistir ao Rock In Rio na TV. Estávamos assistindo a uma reportagem sobre a abertura dos portões do evento, quando passou a imagem de milhares de jovens correndo para ficar na primeira fila, em frente ao palco. E dali, não poderiam sair mais até o final do último show da noite, sob o risco de perderem o lugar. Quer ir ao banheiro? Pode ir, mas não volta mais.
Posso apostar que muitos deles tiveram que jogar a calça mijada no balde de roupa suja quando chegaram em casa.
Não tenho mais idade para festivais. Chega uma hora da noite que a única coisa que eu quero é um segurança de 3 metros de envergadura para abrir passagem na multidão e lugar com encosto para morrer.

Não sei você, mas eu fujo de locais lotados. Não vou nem no supermercado no final de semana porque é muito cheio. Shopping, então, nem pensar! Fila para entrar em bar? Tchau, tô indo para outro lugar. Só encaro filas se for, realmente, inevitável ou imprescindível.

Quando eu tinha meus 20 e poucos aninhos, metade da graça das festas era ficar na fila, esperando encher. Festa boa era festa lotada! Era um empurra-empurra do inferno, e era preciso pegar as correntes de pessoas que passavam para conseguir chegar ao bar, ao banheiro, à pista... No alto dos meus 1,57m de altura, cada passo era uma surpresa, e vi muitas costas alheias durante essa fase da minha vida.

Tudo muito apertado, e barulhento. Não se escutava nem os próprios pensamentos (o que não é de todo ruim, quando se tem 20 anos). Mas eu ia. E feliz da vida.

Eu não planejava nada. Se alguém me ligasse às 23h, me convidando para sair, eu saltava dentro das roupas (que hoje em dia, não me servem mais, diga-se de passagem. O que é ótimo, por que eu não sei como eu tinha coragem de usar aquilo!) e ia.
Hoje, se alguém me liga neste horário, eu dou boa noite e combino para amanhã, mais cedinho. De preferência em algum lugar que tenha cadeiras livres para sentar e que eu consiga, ao menos, escutar o que a outra pessoa diz.  AH, e também com espaço livre para circulação. Não tem coisa mais broxante que tomar uma cerveja com a bunda de alguém dançando na sua cara!

Quem quer sentar aí, levanta a mão!

Acho que a gente só perde a paciência com aquilo que não faz mais sentido na nossa vida. Não vejo mais sentido em me sentir desconfortável, seja onde for, por opção. Aproveitei muito a minha adolescência e meus vinte e alguns anos, mas, infelizmente (ou felizmente), já passou.

Envelhecer pode ser bom, sim. A gente aprende a escutar aquela vozinha lá dentro dizendo que não há motivos para passar por certas situações. A gente aprende a respeitar nossos gostos e vontades. E aprende a dar valor aos momentos de tranquilidade. Passei por todos as bolhas nos pés, pelos apertos, pelas gritarias, pelas multidões e me sinto livre, hoje, para encerrar essa fase.

Há quem diga que eu virei uma velha, eu sei. Mas quem disse que eu não estou adorando?






3 comentários:

  1. Adorei!
    Mas que é coisa de véia....hahahaha
    Bj

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  2. Hahahah!!! Amei Kilt! Assino em baixo com orgulho!!!!

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  3. Como sempre adorei, e concordo plenamente. Eu não tenho mais idade pra isso também, e graças a Deus curti muitoooo quando ainda tinha idade e paciência.

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