quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Salve a Guarda do Embaú







Feriadão de 15 de novembro. Último feriado de 2011 e, para mim, a última chance, antes do carnaval de 2012, de ficar 4 dias na praia. Pegamos a estrada rumo à Guarda do Embaú, em Santa Catarina, um dos meus lugares favoritos, onde vou há mais de cinco anos, e sempre tenho vontade de voltar.

A Guarda do Embaú, para quem não conhece, é uma vila de pescadores cortada pelo Rio da Madre, que ao se juntar ao mar, cria um paraíso natural, muito procurado por surfistas, amantes da natureza e amantes do estilo alternativo do local (meu caso, já que não sou surfista, e eu e a natureza não somos muito íntimas).

Bar do Evori - barraco cheio de estilo
Para chegar à praia é preciso fazer uma travessia pelo rio nos barquinhos dos pescadores, ou ir à nado, quando a maré está baixa. Para acessar as outras prainhas, um pouco mais isoladas, é preciso seguir pelas trilhas do morro.
Confesso que eu só me arrisco na trilha que termina no Bar do Evori, que está numa categoria leve de dificuldade, a categoria "Trilha Nível Até Criança Manca Consegue".

Mas para quem gosta de trilhas mais pesadas, é só seguir em frente para chegar às piscinas naturais, ao vale da Utopia e à Pedra do Urubu. Ou, literalmente, atravessar o morro e chegar à praia da Pinheira. (clica aqui, e vê o mapa interativo das trilhas. Aí você vai me entender.)

Além das trilhas, conforme a época do ano, é possível observar a chegada das baleias francas (vimos uma neste feriado, nadando próximo aos surfistas!).

De noite, barzinhos e restaurantes. Som de violão, cervejinha, e uma energia muito boa. Muito reggae também, mas depois de algumas horas, a gente se acostuma.
O clima na Guarda é de muita harmonia, paz e liberdade. Liberdade até demais, diriam alguns mais conservadores, tendo em vista que a vibe Legalize Marijuana é o ar que se respira por lá, mas que nunca causou grandes problemas. A maioria das pessoas sabe que na Guarda o convívio pacífico é a característica principal e fundamental do lugar.

Ou pelo menos, era.

Depois de quase um ano e meio sem visitar a Guardinha, me surpreendi com as mudanças que ocorreram por lá. Algumas positivas, e muitas negativas.

Com a fama que a praia ganhou ao longo dos anos (proporcionada pelo modelo Zulu, que estragou tudo anunciou aos quatro ventos sua pousada no local), seria inevitável que algumas transformações acontecessem, claro. O surgimento de mais pousadas, mercados, restaurantes e opções de comércio aumentaram, trouxe a oportunidade de aumento da renda para os nativos da região, e faz a economia local bombar, principalmente durante a época de veraneio.

O que é positivo, já que muitos moradores viviam somente da pesca e pequenos serviços. A cidade cresceu, as ruas estão sendo asfaltadas e as pousadas estão mais estruturadas para atender a todos os tipos de hóspede. Mas paramos por aí.

Como todo lugar do mundo que vira modinha, o clima de tranquilidade, liberdade e preservação da natureza já não é mais o mesmo.

Não pisa aí sem chinelo, meu filho!
A Guarda do Embaú não tem um sistema completo de esgoto sanitário, e a proliferação de gente no verão faz com que as fossas transbordem. Tudo o que tem nelas (melhor nem entrar em detalhes escatológicos) desemboca diretamente no Rio da Madre, transformando as ruas numa privada a céu aberto, e o rio fica impróprio para banho.


Após a mobilização (olha aqui, nesse link) feita pelos moradores, a prefeitura de Palhoça, município o qual a praia da Guarda do Embaú pertence, prometeu, em março deste ano, que tudo estaria pronto para a temporada de 2012, mas a contar pela ausência deste tipo de obra nas ruas da Guarda, será mais uma promessa em vão. Pouco foi feito, e todos os dias os comerciantes locais precisam chamar caminhões-tanque para a limpeza das fossas, numa tentativa, muitas vezes frustada, de dar um jeito na cocozada turística.


Os barzinhos da beira da praia, antes tranquilos, onde se podia entrar e sair a hora que bem entendesse, curtir um sonzinho ao vivo, a vista da praia à noite e tomar uma ou doze cervejinha , se transformaram em casas noturnas, com ingressos a quase 30 reais, cercadas de telas e vidros, de onde, a certa altura da noite, ouve-se música eletrônica (?!). Outros bares, que ficavam localizados no centrinho da cidade, fecharam as portas devido ao barulho, que incomodava a vizinhança e o sono dos moradores do centro.

Dizem os nativos que estas mudanças na vida noturna foram feitas para selecionar mais o público, pois um certo tipo de pessoal, a famosa CHINELAGEM, estava chegando a rodo, criando confusão, brigas, sujando a praia com toneladas de latinhas e garrafas, e destruindo o clima alternativo e tranquilo do local.

Mas nada disso impediu os carros e Chevettes que chegavam, em comboio, abrindo seus (in)digníssimos porta-malas lotados de isopor com cerveja e colocando Cláudia Sangalo Leitte a todo volume, no meio da rua. Um comportamento totalmente inadequado, desprezível, e uma verdadeira falta de respeito, que não combina em nada com o perfil da cidade. São gafanhotos, que por onde passam, deixam tudo o que tinha de lindo, arrasado.

Arrasada fiquei eu. Como uma turista antiga da praia, saí muito triste de lá. As tentativas de melhoria na estrutura da cidade foram poucas perto do estrago deixado pelas ruas a cada final de temporada. E todo aquele clima alternativo, de paz e energia boa que nativos e amantes da praia tentavam preservar, está acabando, pois o mal comportamento de uns afasta aqueles que realmente respeitam a beleza e a harmonia do lugar.


Felicidade: é só entrar à esquerda!
E para piorar, existe um plano diretor de verticalização das praias de Palhoça, que prevê construções de até 4 andares na orla, e 12 andares, nas áreas mais centrais.


É claro que a Guarda do Embaú continua linda, mágica, e cada vez que o carro sai da BR-101 e entra na pequena estrada de paralelepípedos, o meu coração acelera... Mas a Guarda mudou. O clima da Guarda mudou. O perfil do turista da Guarda mudou.

Não existe outra Guarda do Embaú por aí. A Guarda é única. Ver este paraíso se transformando em mais uma cidade amontoada, com seu trânsitos, barulhos e sujeiras me deixa com um aperto grande no peito.

Como aceitar uma administração pública que não tem olhos para suas verdadeiras riquezas? Como aceitar mudanças que trazem mais destruição do que progresso?

Sei lá...parece que ninguém mais se importa.



2 comentários:

  1. Bah, Kity. Ao ler teu post me deu um aperto também. Faz uns 6 anos que não vou à Guarda, mas costumava passar da Pinheira prá lá pelas trilhas no mato. Uma vez, eu e um amigo (com a prancha em punho) atolamos em um famoso "olho de boi". A prancha salvou nossas vidas: serviu de apoio para nos impulsionarmos e sairmos do atoleiro. Bom, enfim, esse era o espírito: desbravar, interagindo com a natureza. Pensar que a Guarda está virando uma Nápoli (linda, mas cheia de sujeira pela rua), é algo que me entristece. Porcaria de administração!!!

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  2. @Ana B.
    O que eu não consigo entender, Ana, é como as pessoas se acham no direito de chegar em um lugar daqueles e querer transformar tudo numa grande Tramandaí. Não sabem valorizar, e dá muita raiva mesmo.
    Espero que algo seja feito para que a Guarda volte a ter aquele espírito de tranquilidade e refúgio. Torcemos!

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